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 25 anos do

Museu de Lanifícios da Universidade da Beira Interior (1992-2017)

 

O Museu de Lanifícios: 25 anos a tornar presentes memórias centenárias

A Real Fábrica de Panos marca indelevelmente a cidade da Covilhã e confirma a resistência portuguesa à adversidade. Com efeito, aquela deve-se em parte à disponibilidade financeira gerada pelo donativo dos 4% sobre as mercadorias importadas, aprovado pelos maiores comerciantes da praça de Lisboa depois do terramoto de 1755 e administrado pela Junta do Comércio desde 1756 a 1780. Nada perfaz mais o homem ou a coletividade do que o sentido de criação. Um Museu é uma criação muito especial por dizer respeito à Memória.

A ideia deste na Covilhã, para lembrar o esplendor dos seus lanifícios, é antiga. No princípio, está sempre o conceito. Foi a força da ideia, a necessidade de manter o património que fez parar o operador de bulldozer que, em 1975, reconheceu na pá deste as primeiras pedras aparelhadas descobertas no assento do edifício lembrado até então mais como quartel do que fábrica pela população local. Foi a força da ideia que levou os responsáveis pela transformação do edifício cedido pela Câmara da Covilhã para instalação do Ensino Superior na cidade a recorrerem a especialistas da História e da Arqueologia para perceber o que ficara a descoberto. A criação deve-se, pois, ao encontro de entidades responsáveis pelo património: a Câmara Municipal da Covilhã, a Comissão Instaladora do Ensino Superior na Covilhã, o Estado ao mais alto nível e também a Associação Portuguesa de Arqueologia Industrial. A Câmara cedeu o edifício que agora é da Universidade da Beira Interior. Os responsáveis desta valorizaram-no respeitando-o no seu espírito. O Estado Português classificou como imóvel de interesse público “o conjunto de fornalhas e poços cilíndricos da antiga tinturaria da Real Fábrica de Panos da Covilhã” pelo Decreto n.º 28/82 de 26 de fevereiro, assinado pelo então Primeiro-ministro do VIII Governo Constitucional, Francisco José Pereira Pinto Balsemão, pelo Ministro da Cultura e Coordenação Científica, Francisco António Lucas Pires, e pelo Presidente da República António Ramalho Eanes.

Duarte Cordeiro de Almeida Simões, primeiro presidente do Instituto Politécnico da Covilhã (1974-1979) e Cândido Manuel Passos Morgado, primeiro reitor (1980-1996) e Manuel José dos Santos Silva, segundo reitor (1996-2009) da Universidade da Beira Interior, apoiaram o projeto de recuperação da Memória.

A Associação Portuguesa de Arqueologia Industrial (APAI) estudou profundamente este património e colaborou no projeto de musealização (1986-1992).

A inauguração aconteceu a 30 de abril de 1992. A História do Edifício foi feita em 1827 por José Acúrcio das Neves e recentemente por Elisa Calado Pinheiro e Jorge Custódio que acompanharam o projeto de musealização com excelentes textos a propósito. Desde então, algumas dissertações académicas tomaram-na como tema e uma equipa de funcionários dedicados têm-na preservado e mostrado ao público.

A Real Fábrica de Panos passou por várias vicissitudes entre a administração pública e a privada até 1885, quando a viúva de António Pessoa de Amorim cedeu o edifício à Câmara Municipal da Covilhã em cuja posse esteve até 1973. Desde 1992, o edifício da Real Fábrica de Panos integra o primeiro polo do Museu de Lanifícios e reúne outros serviços da Universidade da Beira Interior, a mais poderosa marca da Covilhã do presente e, certamente, do futuro.

António dos Santos Pereira, 2017
Diretor do Museu de Lanifícios da UBI