O património industrial
No que se refere à Rota da Lã, os seus itinerários aparecem-nos profusamente documentados no nosso país e mais concretamente na região da Beira Interior, desde o século XII até à atualidade. Há ainda que ter em conta as complementaridades espaciais e de natureza geográfica que, ao longo dos tempos, se estabeleceram entre os homens desta região e que foram a origem da sua especialização neste domínio. Trata-se, muitas vezes, de circuitos criados e desenvolvidos através de laços de natureza pessoal ou coletiva, de âmbito social e religioso, que transcendem as meras relações de natureza económica e que permitem compreender situações pouco comuns: é o caso da cidade da Covilhã que, considerada geograficamente isolada no contexto nacional, foi contudo beneficiada por intensos contactos internacionais de certo modo privilegiados e que terão resultado, provavelmente desde o século XVI, no estreitamento de laços veiculados entre as comunidades judaica e cristã-nova, não só no contexto peninsular como também no europeu e até mundial.
A montanha, propiciando ao gado os pastos naturais, foi ponto de encontro dos grandes trajetos da transumância tanto nacional como peninsular. Por esta razão alguns aglomerados populacionais desta área, como Manteigas, Seia, Gouveia e Covilhã, especializaram-se no fabrico de tecidos de lã. Esta situação foi facilitada pelo acesso fácil à matéria-prima que é a base desta indústria: a lã. De igual modo, a energia indispensável ao seu desenvolvimento foi fornecida pelo fácil acesso e utilização da água e das lenhas. Assim, esta região é caracterizada por uma economia agro-pecuária e manufactureira, baseada essencialmente nas lãs e nos tecidos.
Neste contexto, a Covilhã foi-se desenvolvendo, até ao século XIX, tendo sido na altura apelidada e conhecida como cidade-granja/cidade-fábrica. A partir de então, devido a vários condicionalismos, sobretudo por acção dos homens, a cidade especializou-se como cidade-fábrica até aos anos oitenta do século XX. Foi a partir desta altura que a Universidade da Beira Interior, instalada no edifício da pombalina Real Fábrica de Panos da Covilhã, iniciou a recuperação de alguns dos mais representativos edifícios fabris convertendo-os em instalações universitárias.
Desde o século XII até à atualidade, são numerosas as fontes documentais existentes. Entre as mesmas o destaque vai para os arquivos empresariais de muitas das fábricas da Covilhã. Refira-se ainda a proliferação de catálogos dispersos pelos arquivos das fábricas, de papel timbrado, rótulos e embalagens de produtos, fotografias e gravuras, desenhos e plantas, registos audiovisuais, produtos e amostras, modelos e maquetas das fábricas que, ao longo do tempo, foram sendo construídas, e anúncios empresariais publicados na imprensa, todos de indiscutível interesse histórico. Para além deste conjunto documental salientam-se ainda como muito significativas do processo de industrialização covilhanense as numerosas fontes materiais ainda hoje existentes. Pela quantidade e autenticidade de que se revestem são de primordial importância no domínio da arqueologia industrial. Hoje em dia, a Covilhã pode ser classificada como o principal centro histórico dos lanifícios portugueses.
A recuperação e musealização da Tinturaria da Real Fábrica de Panos foi um dos primeiros projetos de recuperação do património industrial português, com a inauguração, em 30 de Abril de 1992, do Museu de Lanifícios da Universidade da Beira Interior. Foi igualmente no âmbito desta experiência que se iniciaram, na Covilhã e na região circundante, com caráter sistemático, levantamentos no domínio do património industrial.
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