PT | EN

 

Arqueologia Industrial

Tinte Velho 1

Fonte Santa, Covilhã

O capitão-mor Simão Pereira da Silva terá iniciado o seu complexo fabril na Covilhã, com a montagem de uma oficina de tinturaria em 1759. Este estabelecimento foi completado com instalações para apisoamento e acabamentos, mantendo-se a fiação em Celorico da Beira e a tecelagem adjudicada a vários tecelões da Covilhã.

Na sequência da morte do fundador, esta unidade passa a ser explorada por Manuel Marcelino Pereira da Silva e Simão Pereira da Silva, homónimo e sobrinho do fundador. Em 1821, nas estatísticas da Junta do Comércio, esta tinturaria já só aparece referenciada a Simão Pereira da Silva, como encontrando-se em exercício, com duas caldeiras e duas dornas instaladas e tendo a laborar dois mestres, catorze oficiais e vinte e quatro serventes, estimando-se a produção em 2.890 peças.

Em 1845, este estabelecimento de tinturaria encontrar-se-ia a ser explorado por Joaquim Manuel Pereira da Silva, na freguesia de S. Martinho, com cinco trabalhadores, sendo considerado em estado “estacionário”.

João Mendes Alçada, que desde 1840, instalara na ribeira da Carpinteira um engenho de cardação e fiação que veio, posteriormente, a incluir as secções de tecelagem e de ultimação, adquiriu, em 1866, a João António Figueiredo e Almeida um pisão localizado no sítio da Ponte da Fábrica Real, que veio a vender, em 1872, a Manuel Nunes Mouzaco e Francisco Farias Bichinho. Admite-se que, juntamente com aquele pisão, João Mendes Alçada se encontrasse a explorar esta tinturaria, que continuaria a laborar sob a firma “Alçada & Cª”. Esta empresa vem referenciada no “Inquérito Industrial de 1881” a explorar uma tinturaria na Goldra, freguesia de S. Martinho, de fundação antiga, adquirida em 1857, com duas dornas e três caldeiras, com cinco operários do sexo masculino.

Em 1923, a firma de Manuel Mendes Alçada, localizada na ribeira da Carpinteira, requereu à 2ª Circunscrição Industrial uma licença para estabelecer uma tinturaria na margem direita da ribeira da Goldra.

Em 1937, encontrava-se a laborar nesta unidade a empresa de Manuel da Silva Ranito Júnior, a que se seguiu, em 1938, António Lopes Ranito e, em 1941, a “Tinturaria Ranito, L. da”.

Em 1942, as instalações encontravam-se a ser exploradas, em regime de arrendamento, por António Pereira Nina Júnior e Aníbal Pereira Nina.

Em 1944, a firma “Feio, Moreira & C.ª” veio a alugar as instalações do Tinte Velho.

Em 1947, a sociedade constituída pela firma “Francisco Mendes Alçada & Sucessor” e pelo Dr. Aníbal Mouzaco Alçada adquire a Manuel da Silva Ranito esta oficina de tinturaria, que manteve em atividade durante a década de 40 do séc. XX, até montar novos equipamentos, fruto do aumento da sua atividade nos espaços que passaram a designar-se de “Tinturaria Alçada”. A partir desta transferência, as instalações do “Tinte Velho” destinaram-se a espaços de apoio e armazém daquela firma, tendo ainda servido para a instalação de um equipamento de estampagem de fios.

Em 1996, cessou a atividade associada a esta unidade, que se mantinha inativa desde há alguns anos atrás.

Arquitetura Industrial

O complexo, de sistema construtivo tradicional, constitui o último exemplar que se manteve das primitivas oficinas de tinturaria, instaladas na ribeira da Goldra. A unidade, constituída por dois edifícios adjacentes, cuja implantação acompanha a sinuosidade da ribeira, apresenta um sistema construtivo tradicional, em alvenaria de pedra, inicialmente de um só piso e com uma característica cobertura de quatro águas. O edifício de menores dimensões, correspondente à fase inicial de laboração desta unidade, preserva ainda um conjunto de vestígios técnicos nomeadamente uma boca de fornalha semelhante às existentes na “Real Fábrica de Panos”, tendo-lhe sido introduzida, nos anos 40 do séc. XX, uma placa de betão que o transformou num imóvel de dois pisos; o segundo edifício, de maiores dimensões, preserva as divisórias interiores bem como os suportes dos veios de transmissão e ainda evidências da utilização da energia hidráulica, uma vez que teve uma roda instalada. O complexo possui ainda outras estruturas associadas, como levadas e um tanque.

1) Optou-se pela utilização desta designação uma vez que não foi possível reportar, com exactidão, esta unidade à sua primeira ocupação. Apesar de ser identificada também como a “Tinturaria do Ranito”, o imóvel é recorrentemente referido, quer na documentação consultada quer pelas fontes orais entrevistadas, como o Tinte Velho.

 

Fonte: In PINHEIRO, Elisa Calado, coord. – Rota da Lã-Translana: percursos e marcas de um território de fronteira: Beira Interior (Portugal), Comarca Tajo-Salor-Almonte (Espanha). Covilhã: Universidade da Beira Interior, Museu de Lanifícios, 2008-2009. Vol. 2: p. 624-626.